ATUALIDADES

O MAIOR RECUO DA DIREITA NA HISTÓRIA DO BRASIL


O ano de 2010 ficará marcado como o maior recuo das forças conservadoras no Brasil. A direita, carente de projeto nacional, deverá se contentar com alguns grotões de resistência: uma certa influência no Sul e no Sudeste, o controle de regiões do sertão onde ainda predomina o coronelismo, e, evidentemente, a parcela que lhe toca no comando das políticas monetária, agrária e ambiental. Não é pouca coisa, claro. Mas, ainda assim, é notório que os representantes dos interesses mais retrógrados estejam a ponto de se tornar minoria tanto no Congresso Nacional, como no controle dos governos.

As razões deste fenômeno inédito não são tão difíceis de enumerar. São visíveis para qualquer observador da evolução política brasileira recente. Nela, ficou evidente que a direita tem por objetivo reverter importantes conquistas adquiridas especialmente nos últimos anos do governo Lula. Dentre elas, podemos citar: as políticas de combate à pobreza extrema, as políticas de ações afirmativas, a expansão do ensino superior gratuito e de qualidade, as políticas de recuperação da capacidade do investimento do Estado, e, por fim, uma política externa independente.

Comecemos pelas políticas de combate à pobreza extrema. Seus resultados evidenciam o sucesso de uma estratégia de gasto social pouco custosa para os cofres nacionais. E, ainda assim, a direita se opôs radicalmente a este projeto, alegando a sua ineficiência, com a habitual incorporação do discurso econômico conservador. Segundo este discurso, a renda mínima do bolsa família tende a aumentar o desemprego, e elevar artificialmente o salário além do que o mercado determina. Ora, esse cenário de catástrofe não se concretizou: o país cresce em parte graças aos recursos injetados nas famílias mais pobres.

E é o mesmo discurso econômico conservador que fundamentou uma campanha ultra-conservadora contra a adoção de políticas de ação afirmativa. Como já pudemos observar, não há qualquer evidência para afirmar que a inclusão de minorias discriminadas gere ineficiências econômicas ou conflitos raciais.

A direita deu início ao programa de privatização do ensino superior, foi contra o ProUni, e agora, na campanha eleitoral, coloca ênfase na ampliação de vagas no ensino técnico. Não quer o povo na universidade. Quer que ele se contente com um aprendizado profissional e com o seu lugar subordinado no mercado de trabalho. A universalização do ensino superior é uma realidade dos países desenvolvidos e não há razão para que não se persiga esta meta no Brasil.

A recuperação na capacidade de investimento de empresas nacionais é também uma realidade destes últimos anos de governo Lula. Fruto de uma manobra que criou uma taxa de juros subsidiada para investimentos produtivos, comandada pelo BNDES. Ala da equipe econômica agora sob direção de um heterodoxo – aliás, como em outros setores estratégicos da política econômica do governo, com a importante exceção do Banco Central. Nunca é demais lembrar que, no governo FHC, todo o privilégio era dado ao capital estrangeiro. Agora, as transnacionais têm de disputar espaço com as múltis brasileiras, tanto no mercado nacional, como também no exterior.

A evolução que trouxe a política externa do Brasil sob Lula só não obteve reconhecimento da mídia nacional conservadora. Fora do país, todos são unânimes em apontar os avanços. Enquanto isso, a direita deu sinais de reverter o importante processo de aproximação com a movimento bolivariano, atacando de forma indiscriminada os governos soberanos de Morales e Chávez, e fechando os olhos para os crimes contra a humanidade do ex-presidente colombiano, Álvaro Uribe.

Resta agora esperar que a derrota histórica da direita nas urnas se concretize na composição do novo governo, retirando dos interesses conservadores o que lhes resta de influência na condução da política monetária, agrária e ambiental. Para fazer valer de fato a vontade do povo.


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CHILE



A POSSE DO NOVO PRESIDENTE E SEU MINISTÉRIO

Sebastian Piñera Echenique, 60 anos, (Renovação Nacional) tomou posse como 32º presidente do Chile pouco depois da ocorrência de um novo tremor de terra de 6,6 graus na escala Richter, em Valparíaso, que assustou aos convidados da cerimônia, e em meio às elevadas consequências em vidas perdidas e prejuízos materiais do terremoto de 27 de fevereiro. A catástrofe sísmica condicionará muito seu governo e o novo chefe de governo mostrou estar plenamente consciente disso com as medidas que já vinha anunciando dias antes da posse.

Sua equipe tem 22 ministros (16 homens e 6 mulheres) e reune pessoas com e se experiência pública, além de várias pessoas do setor empresarial. O número de ministérios pode ser considerado razoavelmente elevado sugerindo que poderá haver problemas de coordenação uma vez que as atribuições de algumas apontam para objetos em comum.

Ele é o primeiro governante que pertence à direita, ainda que moderada, eleito desde 1989 quando o País realizou a primeira eleição direta após a ditadura instaurada em 1973. A montagem de seu ministério é um indicador importante de como Piñera enxerga os desafios dos próximos anos. Para um candidato com estreita margem de atuação no Poder Legislativo, haja vista a grande força da Concertação Democrática, ele buscou nomes que pertenceram a suas fileiras, Jaime Ravinet, e outros com grande experiência pública, como seu ex-adversário de outra eleição presidencial, o ex-prefeito de Santiago, Joaquin Lavin. Há também muitas figuras provenientes do setor privado, ainda que desenvolvendo atividades políticas junto ao partido do presidente, a Renovação Nacional (RN). Ele próprio é um grande empresário no país e até poucos dias antes de sua posse o controlador maior da Líneas Aéreas de Chile (LAN-Chile), além de participação na Chilevisión, e dos cartões de crédito Visa e Master Card.

Todavia, a escolha para o cargo de Ministro das Relações Exteriores ele escolheu parece uma aposta que não dá indícios de levar em conta a alta importância desta pasta no mundo contemporâneo. Ele escolheu Alfredo Moreno Charme (53), executivo de empresas sem formação e nem atuação diplomática.


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Atualidades - ELEIÇÕES NO IRAQUE


Eleições no Iraque - 11/03/2010

País decide nas urnas futuro sem Estados Unidos
José Renato Salatiel



A eleição parlamentar no Iraque, ocorrida no último dia 7 de março, foi a segunda e a mais importante realizada desde a queda da ditadura de Saddam Hussein em 2003. O que está em jogo é a estabilidade política do país após a saída das tropas americanas, ano que vem, em uma das regiões mais conflituosas do planeta.
Direto ao ponto:

Não será uma tarefa fácil. Primeiro, porque a sociedade iraquiana é formada por três grupos étnicos e religiosos que brigam entre si pelo poder há séculos. Os árabes perfazem entre 75% e 80% da população, de 29 milhões de habitantes. Os curdos estão entre 15 e 20% desse total. A principal religião é a mulçumana, dividida entre xiitas (60 a 65%) e a minoria sunita (32% a 37%). Os sunitas governaram o país desde sua criação, em 1920, mas hoje têm pouca expressão política.



Por isso, independente de quem seja vencedor da eleição, a composição que governará o Iraque precisa oferecer representatividade a esses diversos grupos religiosos e étnicos. Se não for assim, há o risco de insurreições e guerras, como ocorreram no passado.



Em segundo lugar, o país não possui nenhuma tradição democrática, assim como praticamente todo o Oriente Médio. Árabes votando é algo raro em uma região pontuada por regimes ditatoriais e teocracias.



O Iraque é uma das civilizações mais antigas do mundo, que viveu séculos de ocupação estrangeira e guerras. Apesar de ser rico de minérios, ele é hoje um dos países mais violentos do mundo, com problemas de corrupção e infraestrutura e serviços precários.



Era Saddam Husseim



Após quatro séculos de domínio do Império Otomano (1533-1918) e como colônia européia (1921-1958), o país sofreu sucessivos golpes de Estado até que o partido do sunita Saddam Hussein chegou ao poder, em 1968.



Eleito presidente em 1979, Saddam ficou 24 anos à frente de uma das ditaduras mais sangrentas da região (ele foi responsabilizado pelo massacre de 148 xiitas, ocorrido em 1982, após sofrer uma tentativa de assassinato).



Nesse período, o Iraque se envolveu em três guerras no Golfo Pérsico: a primeira contra o Irã (1980-1988), quando Saddam tinha apoio de Washington; a segunda quando invadiu o Kwait (1990), a qual seguiram-se severos boicotes e sanções; e a terceira, quando foi invadido Estados Unidos (2003).



Os Estados Unidos entraram no Iraque em 20 de março de 2003, com apoio do Reino Unido. Na ocasião, o governo de George W. Bush (2001-2009) acusou Saddam Hussein de ligação com os atentados de 11 de Setembro e de possuir armas de destruição em massa, fatos que nunca foram comprovados. O verdadeiro motivo da guerra seria garantir o controle das reservas de petróleo do Iraque (ver livro indicado abaixo).



O ditador iraquiano foi deposto, capturado ao final daquele ano e condenado à morte em dezembro de 2006. Para os Estados Unidos, no entanto, era apenas o começo de uma das guerras mais longas, caras e mortíferas, só perdendo para o conflito do Vietnã (1959-1975). Somente a guerra do Iraque já custou US$ 711 bilhões aos cofres americanos e deixou um saldo de 4.700 soldados mortos, sendo 4.386 americanos.



Enquanto as tropas eram alvos de atentados terroristas no Iraque (ver filme indicado abaixo), escândalos como a justificativa fraudulenta para a invasão e os abusos cometidos contra presos iraquianos na prisão de Abu Ghraib mancharam a imagem da Casa Branca perante o mundo.



Isso começou a mudar com a posse de Barack Obama, em 2009. Obama assumiu o compromisso de retirar a maior parte dos combatentes até 31 de agosto de 2010. No entanto, hoje há aproximadamente 96 mil soldados americanos no Iraque e metade desse contingente lá deve permanecer, sendo removido gradualmente até 31 de dezembro de 2011. Somente depois disso, o Iraque conquistará de novo sua independência.



Votação e atentados



No dia 7 de março, os iraquianos compareceram às urnas em meio a atentados terroristas. Ao menos 38 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas em 20 explosões que destruíram dois prédios na capital Bagdá. A fronteira com o Irã foi fechada e o exército foi mobilizado para garantir a segurança dos eleitores.



Foi o segundo pleito desde a queda de Saddam. Em 30 de janeiro de 2005, os sunitas boicotaram as eleições, que terminaram com a vitória de uma coalizão partidária xiita e a eleição, em 6 de abril, do líder curdo Jalal Talabani para a Presidência. Dessa vez, foi registrado maior comparecimento entre as províncias de maioria sunita.



O país tem 18,9 milhões de eleitores e 60% votaram nesta última eleição, índice inferior a 2005 (75%). Eles irão escolher os 325 novos integrantes do Parlamento e, possivelmente, um primeiro ministro e presidente.



Três grupos principais disputam os votos dos iraquianos. O atual premiê xiita Nouri al-Maliki, líder do Estado de Lei, é o favorito na corrida. O principal rival é o ex-primeiro-ministro Ayad Allawi, candidato da coligação Iraqiya, de xiitas e sunitas. Ambas as coligações partidárias são de tradição secular, diferente da Aliança Nacional Iraquiana, de Moqtada al-Sadr, composta por xiitas religiosos. O maior risco seria esse último grupo vencer, o que marginalizaria ainda mais os iraquianos sunitas.



Os resultados não devem diferir do governo atual, de xiitas governando com apoio dos curdos. Espera-se, porém, que aja mais participação da minoria sunita.



Os desafios do novo governo serão atender população carente, garantir a segurança e a governabilidade após a saída das tropas americanas. Se conseguir isso, o Iraque poderá ser uma das poucas nações árabes verdadeiramente democráticas da história.

Direto ao ponto



A eleição parlamentar no Iraque, ocorrida no último dia 7 de março, foi a segunda e a mais importante realizada desde a queda da ditadura de Saddam Hussein em 2003. O desafio é garantir a estabilidade política do país após a saída das tropas americanas, ano que vem, e manter a paz com os vizinhos no Oriente Médio.



Há duas dificuldades nessa empreitada: primeiro, conciliar uma sociedade dividida em grupos étnicos (árabes e curdos) e religiosos (xiitas e sunitas); e, segundo, a tradição de regimes ditatoriais e teocráticos no Oriente Médio, que desconhecem a prática da democracia.



Os Estados Unidos invadiram o Iraque em 20 de março de 2003, após os ataques do 11 de Setembro. Desde então, enfrentam uma das guerras mais caras, sangrentas e duradouras de sua história. Por isso, o presidente Barack Obama, eleito ano passado, assumiu o compromisso de retirada gradual das tropas até o final de 2011. Quando isso acontecer, os iraquianos ficarão por conta própria.



As eleições ocorreram em meio a atentados terroristas que mataram 38 pessoas. Serão eleitos 325 novos integrantes do Parlamento e, possivelmente, um primeiro ministro e presidente. Os resultados não devem diferir do governo atual, de xiitas governando com apoio dos curdos e, talvez, uma maior participação da minoria sunita, equilibrando o poder.



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